perimenopausa
a minha experiência pessoal a navegar alterações hormonais
Ninguém nos prepara para uma perimenopausa aos 37 - 38 anos. E, como não é muito frequente, muitos médicos descartam o diagnóstico considerando a idade.
Os meus sintomas
No meu caso, os sintomas mais típicos, como ganho de peso e afrontamentos, não estavam presentes. O que senti foi fadiga extrema, enxaquecas, insónia, brain fog (dificuldade em concentrar‑me e focar‑me) o que numa fase em que estava a dar aulas a 2 turmas na universidade + o meu trabalho usual na indústria farmacêutica levou a burnout. Também tinha dores debilitantes nas articulações (principalmente mãos e pés) e sensibilidade dentária. Também me surgiu acne nas costas, o que parece contraditório, mas também pode ser um sintoma.
Para além disso, passei a ter uma menstruação extremamente abundante e ciclos muito irregulares, o que levou a níveis de ferro muito baixos (ferritina < 30 ng/mL). Como níveis baixos de ferro têm sintomas semelhantes aos da perimenopausa, torna‑se ainda mais difícil fazer um diagnóstico. No meu caso, precisei de tratamento para os níveis baixos de ferro (infusão intravenosa de ferro).
Para além disso, não aprendemos que é possível ter sintomas de perimenopausa com um ciclo normal ou com um ciclo que se torna mais curto e mais abundante.
Também existe muito preconceito em falar de perimenopausa e menopausa, porque está associada a envelhecimento. Não acho que seja necessário falar com toda a gente que nos rodeia, mas em círculos de amigas/os, com quem nos sentimos confortáveis e seguras, pode ser importante para desmistificar e normalizar a experiência. A minha pele é usualmente muito boa, mas, na minha fase pior, em que tomava NAD IV, tinha um glow fantástico, apesar de fisicamente, mentalmente e emocionalmente estar exausta.

Mesmo entre mulheres, ainda se invalida a experiência de outras. Esta atitude faz‑nos duvidar do que sentimos e da severidade dos sintomas, e tenta muitas vezes normalizar aquilo que não deveria ser normalizado pelo impacto na qualidade de vida. Este mindset gera ressentimento e, por vezes, leva a que essas mesmas mulheres perpetuem o ciclo de invalidação noutras.
As redes sociais também não ajudam. Há sempre alguém a vender um curso e a sugerir que é possível reverter os sintomas apenas com exercício físico e alimentação saudável. Estes hábitos podem ajudar, mas não substituem avaliação clínica nem tratamento quando indicado. Eu comecei a ter sintomas mesmo fazendo uma dieta saudável e fazendo exercício físico regularmente.
Diagnóstico
A minha FSH estava bastante elevada face aos resultados de dois anos antes, num valor compatível com menopausa. Os níveis de estrogénio e progesterona também estavam muito baixos. A testosterona estava em níveis normais. No entanto, os níveis hormonais podem parecer normais na perimenopausa devido às flutuações próprias desta fase, e o diagnóstico deve ser feito pelos sintomas. No meu caso, devido às dores debilitantes nas articulações, tive de fazer também despiste de doenças auto‑imunes. Eu aceitei bem o diagnóstico porque na verdade estava emocionalmente exausta de exames, tratamentos e de sintomas, e só queria perceber o que estava errado e fazer tratamento. Ter um diagnóstico foi um alívio. Mas aceitar o diagnóstico nem sempre é fácil, e isso é natural. É importante respeitar o que se sente.
Tratamento
Eu faço terapêutica hormonal de substituição, usando hormonas bioidênticas: progesterona em cápsulas e estrogénio em gel transdérmico. Como é que se trata baixos níveis hormonais? Com substituição de hormonas, a chamada terapia hormonal de substituição.
Hormonas bioidênticas são hormonas que são, como o nome indica, idênticas as que o organismo naturalmente produz. Infelizmente, existe a ideia de que hormonas bioidênticas são sempre manipulados de farmácia, o que não é necessariamente verdade. Existem hormonas bioidênticas produzidas pela indústria farmacêutica, com a vantagem de serem regulamentadas por autoridades de saúde, como o Infarmed, e de serem testadas lote a lote. Na maioria das vezes, o preço também é mais acessível.
Evidências da literatura
A progesterona micronizada, quando tomada por via oral, actua como neuroesteróide e pode aliviar sintomas de ansiedade e depressão, bem como melhorar problemas de sono e a memória (Memi E. et al., 2024).
A progesterona micronizada não tem sido associada a aumento do risco trombogénico ou de cancro da mama (Levy et al., 2024).
O estradiol‑17B (E2), quando usado por mais de 10 anos, é considerado seguro para a saúde mamária (Levy et al., 2024).
Distúrbios alimentares são bastante prevalentes durante a perimenopausa devido a alterações do humor e flutuações hormonais (Davies, 2024). Mulheres com histórico de anorexia, bulimia ou outros distúrbios alimentares devem ter especial atenção.
A perimenopausa e a menopausa podem afectar a saúde oral, sendo importante reforçar visitas ao dentista e reforçar a higiene oral (Thomas N. et al., 2025).
A terapêutica hormonal continua a ser o melhor e mais eficaz tratamento para a maioria das mulheres, embora a sua utilização esteja em mínimos históricos, com menos de 4% das mulheres em idade elegível a utilizá‑la (Santoro, 2025).
Quem diagnosticar?
Na minha experiência, a ginecologia nem sempre é a melhor opção para diagnóstico, por falta de informação específica sobre o tópico. No meu caso, a minha ginecologista (apesar de profissional e querida) dizia‑me que o meu útero parecia de uma mulher de 20 anos e que eu tenho um aspecto muito jovem, o que não invalida nem confirma o diagnóstico.
Usualmente, a melhor opção são médicos com prática em saúde hormonal e em terapia hormonal de substituição: medicina antiaging, medicina da menopausa, ou ginecologia com formação específica. A pesquisa deve ser feita de acordo, seleccionando profissionais com experiência e que prescrevem estes tratamentos quando indicados. A minha pesquisa foi feita com os termos “doctor Hong Kong HRT”, e felizmente encontrei uma médica experiente em terapia hormonal de substituição e sensível aos meus sintomas (ela própria entrou na perimenopausa aos 40 anos).
Muitas mulheres vêem os seus sintomas desvalorizados e acabam por ser diagnosticadas com depressão, apesar de os sintomas depressivos poderem ser desencadeados por flutuações hormonais. O ideal é que se façam despistes adequados e que o tratamento seja orientado pelos sintomas.
Médicos especialistas em Portugal
Dra. Andrea Quintas, Porto/Gaia/online
Dra. Marta Padilha, Lisboa
Dra. Catarina Pestana, Coimbra
Dra. Sofia Jardim Escórcio, B.Clinic, Madeira
A minha médica é, como disse, em Hong Kong, e portanto não tenho experiência de especialistas em Portugal. Mas várias pessoas sugeriram-me os contactos que deixo em cima, o que pode beneficiar alguém. Um dos meus objetivos é que NENHUMA mulher veja os seus sintomas desvalorizados.
Eu tenho muito boa experiência com a terapia hormonal de substituição. E não conseguia tomar a pílula porque causava-me enxaquecas. Durmo melhor, as dores nas articulações desapareceram, consigo focar-me e tenho mais energia. Existem alguns dias piores devido a flutuações hormonais, mas a minha qualidade de vida melhorou 80-90%.
Este texto resulta da minha experiência pessoal e do estudo da literatura científica recente. O objectivo é sensibilizar para possíveis sintomas e melhorar os conhecimentos nesta área. Não substitui avaliação médica individual.
P.S. o meu email já está a funcionar!




Há anos que sinto que estou na Perimenopausa, por todos os sintomas descritos pela Andreia. A primeira coisa que fiz, foi consultar a minha ginecologista, que desvalorizou completamente e me passou um antidepressivo e um lubrificante. Continuo sem diagnostico, mas tomo antidepressivo, medicação para dormir, vitaminas para o cansaço, psicoestimulantes para o brain fog, e medicação para a próstata, pela urgência urinaria noturna. Nenhum destes, valorizou o facto de eu ter 47 anos, não me veem como um todo, cada especialidade atua sozinha, no seu campo de atuação. Vou procurar, um destes especialistas que referiu, no Porto. Estou a aguardar por uma consulta desta especialidade desde Setembro e só arranjei para Abril!! Obrigada por dar voz a tantas mulheres que pensam que estão a pirar :/