Quando a vida pede pausa.
O processo de aprender a abrandar, pedir ajuda e escutar o corpo
A vida é cíclica. E, quando percebemos que há estações e temas para trabalhar, a vida não fica mais fácil, mas torna‑se mais simples manter perspetiva e aceitar. A única saída é caminhando (the only way is through). Eu, por exemplo, parti um dedo do pé num daqueles acidentes estúpidos em casa que não fazem sentido nenhum.
Como estive alguns meses (anos?) em perimenopausa sem terapia hormonal, tenho sinais de osteopenia, visto que o estrogénio protege os ossos.
Várias semanas a trabalhar de casa, sem poder fazer exercício, a adiar ou cancelar compromissos, e pequenas frustrações como não conseguir lavar bem o cabelo e a ginástica de tomar banho numa posição que parece a tree pose do yoga. Ter de cancelar os meus planos de Natal. Está‑me a ser pedido (mais ditado) que pare, que recolha.
O que podemos aprender quando a vida nos leva a parar
É ok pedir ajuda.
Algo que não nos foi ensinado. Eu, pelo menos, tenho imensa dificuldade em pedir ajuda, como se fosse uma falha pessoal. Tantos anos de educação formal e não aprendemos as coisas mais importantes - processar emoções, lidar com falhas, pedir ajuda.
Há um efeito curioso, o chamado Benjamin Franklin effect: quando pedimos um favor a alguém, essa pessoa tende a gostar mais de nós. Parece contraintuitivo, mas pedir algo pequeno ativa um mecanismo de dissonância cognitiva - a mente alinha a atitude com a ação para resolver a dissonância, o que reforça a simpatia e a ligação.
A pesquisa na área também demonstra que subestimamos o quanto as pessoas querem ajudar. Portanto, pedir um favor simples, um livro emprestado, ajuda a rever um documento, uma boleia, aproxima-nos de outro ser humano. Algo para experimentar :)
É importante percebermos a quem pedir ajuda (há pessoas que sabemos que não são as indicadas) e aceitar a resposta, seja um sim ou um não. As pessoas têm os seus próprios limites e é importante respeitar. E pedir ajuda não diminui o nosso valor. E muitas vezes, é o gesto que cria exatamente a comunidade de que precisamos.
É importante parar.
Mesmo quando estamos bem. Nestes momentos de paragem, em que ficamos mais connosco, é importante olhar para dentro. Seja numa posição de yoga, no sofá a descansar, a meditar. Sentir o nosso corpo e as emoções. Muitas vezes, está tudo escondido, somatizado, porque não paramos e estamos sempre ocupadas. E então não sentimos, não processamos, o que também não nos permite libertar.
Quando comecei a meditar, tinha de me balançar ligeiramente de um lado para o outro, porque era super desconfortável estar quieta durante 20 minutos sem ficar ansiosa. Esta foi uma das técnicas que a minha professora de Meditação Transcendental me deu para conseguir processar estar no meu corpo. E, combinada com outras práticas de mindfulness, permitiu‑me ter um sistema nervoso mais equilibrado e menos ansiedade.
Aprender a estar no corpo e nas emoções.
Aprender a estar com o meu corpo e emoções, e não sempre nos meus pensamentos. Mas quando os pensamentos se tornam muito intrusivos, existem outras técnicas que me ajudam (para além de terapia!). Primeiro, escrever sobre o que estou a pensar e a sentir. Deixar fluir. Para quem tem tendência a filtrar o que escreve, o melhor é rasgar ou queimar a seguir, para permitir um discurso mais honesto. Perguntas que uso: “O que é o pior que pode acontecer nesta situação?” e “O que vou lembrar disto daqui a um ano?”
Produtividade não define o nosso valor.
Pausas não são uma falha pessoal. O corpo tem ritmos, a natureza e a vida também. O descanso não pode ser visto como uma recompensa, nem com culpa.
Projetos
Estou a colorir uma página de Natal (Magical Worlds, Johanna Basford), que já se tornou um dos meus rituais de Dezembro. Para tutoriais eu gosto dos canais do Youtube da Marit’s Colorful Adventures, Julie’s Passion for Coloring, e Chris Cheng. Os meus livros preferidos são os da Johanna Basford e os meus lápis Prismacolor.
Estou a ler Wuthering Heights, de Emily Brontë (O Monte dos Vendavais), que não lia há imensos anos. Também estou, ao mesmo tempo a ver vídeos no Youtube sobre cada capítulo (como uma season de uma série!) que é uma forma de digerir um dos livros mais tóxicos e com trauma entre diferentes gerações. Comprei para o meu aniversário, mas tem havido outros livros que me interessaram mais, que acabei por ler primeiro. Ver os vídeos do YT tem sido uma forma também de me motivar, e demonstra tão bem como todas as personagens são seres humanos terríveis. A minha versão é a da Puffin Clothbound Classics, que tem o tamanho da letra maior, o que a torna mais fácil de ler, que a versão da Penguin Classics, o que é importante para mim que sou míope e estou habituada a ler no Kindle. E confesso, adoro coisas bonitas! Um dos objetivos para 2026 é continuar a alternar ficção/não ficção e incluir clássicos que me faltam.
PERFUME: Guerlain Rose Amira. Rosa amadeirada, um jardim Persa ao anoitecer. Claramente, um perfume sexy, misterioso, é o meu preferido para dias que não posso sair de casa. Como eu gosto das minhas contradições.
Talvez esta fase não seja sobre voltar rápido ao normal, mas mais sobre escutar o que o corpo e a vida me estão a pedir agora. E fazer com que seja um processo com significado. O essencial continua sempre por aqui. Às vezes, só precisa de silêncio e de quietude para se tornar audível.
Se também estás numa pausa, forçada ou escolhida, espero que te dês permissão para abrandar, pedir ajuda e estar no momento sem culpa.




