Uma reflexão sobre mudança na vida adulta
Nada muda se não mudarmos nada.
Quem me segue nas redes sociais há bastante tempo sabe que mudei muito o meu estilo de vida e, principalmente, o meu mindset.
Deixei de acreditar em tudo o que penso (extremamente importante!). A minha mente é uma ferramenta, mas não é quem sou, e não tenho de acreditar em todos os pensamentos que tenho. Aprendi a cultivar pensamentos e estados de espírito que me fazem bem e a não alimentar pensamentos auto‑críticos. Se ser auto‑crítica e perfeccionista funcionasse, já tinha funcionado. Portanto, chegou uma altura em que era necessário tentar algo novo. E o que tinha a perder com isso?
Aprendi a gerir o perfeccionismo, sobretudo, cultivando um sentido de gratidão pelas pequenas coisas, tal como se treina um músculo que não é exercitado. O perfeccionismo diz‑nos que o copo não está cheio; cultivar gratidão mostra‑nos que temos um copo com água que nos faz bem e pela qual estamos gratos.
Aprendi a não me identificar com rótulos, nem a manter a minha identidade numa caixa, o que me permite ser mais tolerante à mudança e alternar entre vários papéis. A ter vários comportamentos e a perceber que estes não definem a minha identidade.
Percebi que só consigo controlar o que está no meu controlo. Tentar controlar o que está fora do meu controlo (outras pessoas, etc.) é uma perda de tempo e de energia, que só causa frustração e descontentamento. Aceitar o que não conseguimos controlar permite‑nos mudar o nosso mindset para procurar outras soluções e não perder imenso tempo apenas a reclamar ou num estado de frustração.
Aprendi que sou a principal responsável pelo meu estado de espírito e pela minha situação na vida, e a cultivar o meu poder pessoal. Ninguém tem o poder de nos dizer como devemos viver a nossa vida. Se eu quiser cristais dentro da minha mala Celine, quem pode julgar? Se eu só quiser consumir conteúdo mais positivo, mais leve, quem pode julgar?
Aprendi a não estar tanto na minha cabeça e a estar mais no meu corpo. Não foi tarefa fácil, porque não era algo que me saísse naturalmente. Precisei de treino de mindfulness, breathwork (respiração consciente), reiki, meditação e cheguei a pôr alarmes durante o dia para me relembrar de praticar as minhas técnicas.
Aprendi a não julgar os outros e, principalmente, a mim própria. Se não julgava os outros, porque é que não dava a mesma graça a mim própria?
Aprendi a processar as minhas emoções, principalmente através de journaling.
Passei a estar mais consciente da minha linguagem. Estudei PNL (programação neuro‑linguística) e aprendi que, ao mudarmos a nossa linguagem, podemos influenciar comportamentos e emoções. Por exemplo, raramente digo “nunca” ou “sempre”, porque são palavras que nos limitam e não nos deixam ver as excepções. Não digo “eu sou perfeccionista”, mas sim que tenho tendências perfeccionistas, porque são apenas comportamentos, o que me ajuda a distanciar‑me deles e a não associá‑los à minha identidade.
Aprendi a não ruminar no que não fiz bem, novamente através de journaling.
Aprendi a lidar melhor com a minha empatia, tendo melhores boundaries (limites) e usando visualização mental. Percebi que sou super sensível a conteúdo dramático ou de horror e há conteúdo que deixei de consumir (certos tipos de notícias, livros, séries, filmes, músicas, etc.).
Aprendi a lidar com a minha ansiedade, expondo‑me em cenários controlados e seguros, mas fora da minha zona de conforto. Não é que não existam momentos em que me sinta ansiosa, mas já não tenho ataques de pânico ou de ansiedade (que tinha!). Aprendi a questionar: “O que é o pior que pode acontecer nesta situação?” e, “O que vou lembrar desta situação daqui a 1 ano?” quando fazemos esse exercício, em 90% dos casos percebemos que temos ferramentas para lidar com o pior cenário e que o que nos paralisa não vamos nem lembrar daqui a 1 ano quanto mais impactar. E uma apresentação no trabalho que corra mal não é o fim do mundo. Esta abordagem também ajuda a diminuir a ruminação.
Aprendi que as minhas reacções automáticas não me faziam bem e tive de aprender a pausar e, muitas vezes, dizer que “ia pensar”, para evitar dizer que sim automaticamente a algo que depois não estava alinhado comigo.
Aprendi também que demoro mais tempo a processar e a saber o que quero do que a maioria, mas é apenas uma forma diferente de processar; só preciso de ter essa consciência e agir de acordo.
Fiz imensa reprogramação mental através de inner child work (criança interior). No outro dia, à conversa com um hipnoterapeuta clínico que é meu amigo, ele dizia‑me que 90% do trabalho interior é inner child work. Eu acredito que sim, porque este trabalho fez imensa diferença na forma como me apresento na vida e a reprogramar crenças limitantes. Também fiz shadow work: aceitar as partes com as quais não me sentia tão confortável (a nossa sombra, nas palavras de Carl Jung). Este trabalho (inner child + shadow work) fiz (e faço) principalmente através de meditações guiadas, afirmações, auto‑hipnose e journaling.
É muito fácil arranjarmos desculpas para não mudar, mas há um dia em que estamos cansados das nossas desculpas, da forma como nos apresentamos na vida, de nada mudar, e é nesse momento que, reconhecemos que precisamos de mudar, e escolhemos fazer algo diferente. No meu caso, tinha feito imensa terapia e estava consciente dos meus comportamentos e padrões, sabia porque os tinha, mas não estava a conseguir mudar, o que me causava ainda mais ansiedade.
Quando decidi que era imperativo mudar, tive ajuda. Quando o aluno está pronto, o mestre aparece. Tive duas pessoas que me fizeram coaching, deram‑me ferramentas, a perspetiva necessária para mudar e me acompanharam nos momentos mais desafiantes. Rodearmo-nos de pessoas que têm atitudes e comportamentos que queremos modelar, é uma das formas mais eficazes que temos para alterar crenças que nos limitam.
Foi um processo fácil? Não. Regredi muitas vezes e houve muitas tentativas e erro? Certamente. Tive que auditar o que pensava, e colocar-me em situações que “não eram a minha cena” incluindo hobbies. Só assim consegui ser mais dinâmica com o meu conceito de identidade. Usualmente acha-se que primeiro mudamos os pensamentos, depois as emoções e só depois os comportamentos, mas a neurociência mostra-nos o contrário. Se mudarmos comportamentos, mesmo sem clareza e com medo, e o fizermos de forma deliberada e consistente, a forma como pensamos e as nossas emoções também mudam. Mudar é super desconfortável e muitas vezes mantemo-nos em situações que não nos fazem bem porque são confortáveis.
Há quem ache que as minhas ferramentas e o trabalho interior que faço muito espirituais, mas na verdade, a maioria são mais de neurociência do que de espiritualidade. E não fiz este trabalho porque precise de ser perfeita, longe disso, mas porque precisava de estar mais em paz comigo própria, e estar mais confortável comigo mesma. Se este artigo inspirar alguém a perceber que é possível mudar na idade adulta e a escolher comportamentos mais alinhados, já valeu a pena. Se eu consegui, outras pessoas conseguirão certamente.




